Apenas após ser sentenciada com o Silêncio, descobri
que algumas outras formas deste existem. Provavelmente, muitas outras
desdobraduras a partir daí, mas agora, quando ouço uma música, passo a escutar
muito mais que outrora, não mais ouço apenas suas notas, e sim o silêncio entre
elas; quando leio um livro, todas as vírgulas e espaços após o período que sucedem
a letra maiúscula, são absorvidos aos ensinamentos de cada palavra proferida pelo
autor. Descobri os lugares onde o silêncio se esconde dentro de mim, e onde ele
se reúne em um dado lugar; nas frestas das janelas, ou dobras de uma cortina,
no infinito de um céu estrelado, ou ao velar o horizonte sem fim do mar, ou até mesmo, no filamento de uma lâmpada.
Quando as pessoas falam comigo, tenho cada vez menos
escutado suas palavras e cada vez mais o que não dizem. Aprendi em algum grau,
a decifrar o significado de certos silêncios, que se assemelham a desvendar um
mistério sem pistas concretas, muitas vezes pela intuição, sensibilidade e
vontade de querer fazer algum bem. Verdade seja dita, e modéstia seja deixado
de lado, sou profílica nesse métier. Por longos períodos tenho me cercado de
silêncios, e talvez a única maneira que tenho conseguido me expressar por
diferentes aspectos, é através da fotografia, um olhar singular do mundo que me
rodeia, e que por sua vez, gera as
infinitas e em muitos casos, errôneas impressões, de quem compartilha comigo
algumas dessas pinturas expressas do mundo moderno.
Um transbordamento das mazelas dessa vida tem rodeado
meus dias, mas a realidade é que nem hoje, nem nunca, vou deixar abater-me.
Sempre vou preferir partilhar os sorrisos, a deixar expostas as dores que carrego no peito e sinto na alma. Cada um sabe o fardo que carrega nessa vida, e é tão difícil
silenciar-me em algumas situações; quando uma criança pergunta-me a cerca do
amor, ou quando a família requer presença quando se está em outro continente,
ou até mesmo quando os amigos mais queridos, querem apenas saber acerca do
cotidiano; esses infindáveis dias de cobranças baseados no amor, que de alguma forma recarregam as energias da inexprimível solidão.
Sei que tenho me limitado apenas aos sins e nãos e
compreendo também que não é suficiente para qualquer relação sadia, mas
proferir uma única palavra, por vezes significa destruir a fluência pungente
do silêncio. Tenho vivido em cárcere das acusações silenciosas, como um pelotão
de fuzilamento com suas metralhadoras em riste, e só assim, com as armas contra
o peito, consegui ponderar se a riqueza do silêncio pode de alguma forma superar
a miséria de não ser realmente escutada.
Concluo que as possibilidades de silêncio são
ilimitadas, e as balas que saem das armas e perfuram a carne com a verdade,
fazem-me ajoelhar e pedir aqui o perdão para esse momento, onde a solidão e o
silêncio tonam-se meios de liberdade.