7.03.2011

Vem todo mundo!


  Uma das coisas que mais me fascina nessa vida são as relações interpessoais, e como viajo muito, constantemente, fico elucubrando acerca de como essas relações se iniciaram. Nada melhor do que exemplificar com um conto, para ilustrar um reconhecimento fortuito. Essa é uma obra de ficção particular, qualquer semelhança, não é mera coincidência. Vem pro meu mundo!

Há pouco tempo atrás iniciava uma nova etapa da minha vida, sendo transferida para uma diferente filial no trabalho. Sempre gostei de desafios e, além disso, tinha um porém na localidade que me encontrava, temia sempre que tinha de ir à filial, que ficava em um bairro mais humilde. Não eram tempos fáceis, a violência ainda pairava pela nossa bela cidade. Fui transferida para um bairro emergente, achando que encontraria um grande desafio, em lidar com adolescentes que, muitas vezes não recebem exemplos de boa educação dentro de casa, pois muitas pessoas não sabem lidar com dinheiro. Sim, me envergonho em dizer que criei um preconceito, vindo de uma matriz engessada que continuo incessantemente a tentar evoluir, e espero ter andado mais um passo nessa vertente que se iniciou. Me deparei com seres humanos maravilhosos, cheios de defeitos claro, como todos nós, mas dispostos a parar e avaliar uma outra visão.
Me imbui de coragem para matar um leão por dia, armada até os dentes, e no primeiro convite, não titubiei. A amiga Margarida, de outra filial, que realmente conhecia os meus ‘eus’ líricos e poéticos, me deu essa chance. O primeiro momento é tão importante, a expectativa criada libertara tanta energia aqui dentro de mim. Como me colocar disponível, sem parecer vulnerável? Como ter que ser tolidora, se o que quero ver é desenvolvimento, amadurecimento? Sem que esses sejam precoces. Todos aqueles livros grandes que li, estariam aquelas pessoas certas? Quem estabelece o limite entre respeito e brincadeira? Enfim, como vocês sabem, eu viajo, então, são muitos devaneios! Entrei na sala com coração acelerado, tive vergonha, queria olhar-lhos todos nos olhos, mas eram muitos, me perdi. Fui dura? Falei rápido? Minha roupa estava bonita? Errei alguma palavra? E o cabelo? Concordância, regência? Será que eles gostaram de mim? Humm, esqueci de dizer que minhas portas estavam abertas. Bom, agora a sorte estava lançada, vamos aguardar.
Enquanto isso, mergulhei nas situações burocráticas que eram muitas a ser resolvidas, e quanto mais buscava, mais elas apareciam. Contudo, sempre que eu tinha uma chance trabalhava nas relações interpessoais, tentando sempre ser: justa, respeitosa e gentil, afinal, é assim que eu espero que as pessoas me tratem. Gosto também de ser carinhosa, mas isso requer um grau maior de intimidade que só o tempo pode trazer. Até que um dia, a amiga Margarida, bate à minha porta e me diz: -Virá aqui uma mocinha que diz ter medo de você, converse com ela.- Eu, balancei a cabeça concordando, é claro, adoro um bom papo e quando alguém se predispõe a isso, não existe a possibilidade de negar, pelo menos não para mim.
Chegou o dia, e Lamina Loba bate à minha porta. Vejo uma pontada de receio em seu olhar, tento deixá-la bastante à vontade, e ela quer ouvir minha opinião acerca das escolhas que precisa tomar em sua vida, ela começa contar a sua história, cheia de emoção, sentimento, carinho, luta, obstáculos, força e muitos outros predicados, todavia, sem perder a doçura de alguém que é agradecido por sua trajetória.
Todos deveríamos ter direito a uma epopéia, pelo menos é assim que eu gostaria que fosse a minha vida: com a ternura de um comercial de margarina, aventuras comparáveis com os filmes da Disney, e romance como em um filme totalmente previsível, água com açúcar, e de final feliz. Mas que cada um escolha a maneira que quer levar sua jornada.
Após ouvir atentamente o desenrolar da história da Sra. Lobinha, resolvi compartilhar um pouco do meu novelo de vida, foram momentos simples, de troca ainda meio acanhada de ambas as partes, falta de intimidade de começo mesmo. O papo transcorrendo, fomos ficando mais à vontade, nos permitindo, confiando, trocando... Terminamos com um longo abraço! Só posso falar por mim, mas saí dali renovada, com a uma sensação maravilhosa de ter encontrado uma alma de bem, disposta a desenvolver-se e auxiliar o próximo, preocupando-se com os que estão ao seu redor, alguns dos valores dos quais mais prezo.
Depois daquele momento de entrega, outros começaram a acontecer, Sra. Lobinha, apresentou-me Patrícia Jorjão, em um primeiro momento não tivemos muita oportunidade de trocar, mas logo de cara parecia ser reconhecimento certo, o grupo do bem tem sido vasto em minha vida, afinal, acredito que as famílias de almas tendem a se aproximar como que de forma magnética, apesar de vez ou outra, cruzar com alguma alma de valores muito diferentes, e em alguns casos, até mesmo antagônicos.
Reencontrei Stra. Jorjão no dia que havia sofrido uma contusão manual, conseguimos conversar um pouco mais, sempre trocando uma energia maneira. Stra. Jorjão é um pouco mais introspectiva, se coloca de forma elegante e precisa, sem muitos rodeios, mas ainda assim, não perde a simpatia e enternecimento; e o olhar, é esse que sempre a entrega. No mesmo dia da tal contusão, Sra. Lobinha falava acerca da saúde de um ente querido, mas acabamos sendo interrompidas, pelo número de pessoas ao nosso redor. Logo depois nos falamos e acabamos por marcar um encontro que ficou conhecido como, um dia feliz, mesmo que algumas coisas não tivessem dado certo e nem o clima ajudado, não perdemos a esportiva e nos divertimos a valer, deixando todos os problemas em casa e dispostas a deixar a felicidade bater à nossa porta a qualquer preço. Para completar o quarteto fantástico, reconheci Madame Bibi Marquette, já havíamos conversado acerca de uma situação burocrática, que de verdade não recordo se consegui solucionar, pois foram inúmeras a respeito de vestimentas, algumas solucionáveis de imediato, outras necessitavam de prazos maiores. Ma’am Bibi Marquette era a caçula daquele grupo, mas já imprimia sua marca, dotada de um humor sarcástico, e de timidez velada, trazia consigo o elo da alegria e do sorriso, juntamente com a o ar matriarcal de Sra. Lobinha, a elegância de Stra. Jorjão e minha humilde participação de novata àquela tchurma, nos divertimos, sem preocupações, e contagiadas por uma energia renovada, registrando todos os momentos e até ultrapassando alguns limites: os de decibéis talvez, com a gritaria das músicas cantadas, ou dubladas; das caretas que usurpam a imaginação para serem de criatividade singular; do número de ‘clicks’; das gargalhadas de perder o ar; dos músculos da face sendo tão utilizados; das emoções trazidas a tona de forma tão simples; da troca; da vida.
O cotidiano mudou rapidamente, mas as pessoas só se perdem nessa vida se elas permitirem, tudo que queremos fazer só depende de nós, da nossa iniciativa, foco, comprometimento, ímpeto para fazer o bem. Pois acredite você, ou não, a lei do retorno é certa de chegar, e vale muito a pena fazer o bem, mesmo sabendo que às vezes todos nós iremos errar. Vamos mesmo respeitar o próximo sempre, e tentar fazer o que é mais acertado, sempre sendo o mais gentil que puder, mesmo quando não tivermos motivos para isso. O exercício da vida é constante e tudo muda o tempo todo, qual é a sensação que mais te agrada?! A minha, é a felicidade, e a minha busca por ela é interminável. Consegui mais 3 aliadas para essa batalha incessante, venha você também para o lado bom da força!