Chegamos ao Parque da Catacumba às 8:30 conforme previamente acordado. Rafael, rapaz ainda meio perdido na cidade grande, foi vencido pelo contra tempo da localização. Todos estavam muito animados e extasiados pela beleza do lugar. Apesar de muitos serem originários daquela mesma cidade, ninguém conhecia a localidade a fundo. Encravado na montanha e de natureza abundante, proporcionando contraste com a selva de pedra ao redor.
Começamos nossa jornada, dando as mãos em círculo, rodeados pela exuberância e serenidade. Fechamos os olhos e sentindo toda aquela energia fluir pelo nosso corpo, fizemos alguns instantes de silêncio buscando harmonia e equilíbrio para o início de mais um dia de aprendizagem. Subimos pelo caminho de pedras, admirando tudo que nos rodeava, tanto verde, o ar e o frescor já se faziam renovados. A excitação era tamanha, que ao invés de entrar no clima que o lugar proporcionava, todos tagarelavam com a nova descoberta e as possibilidades futuras. Cada um com suas próprias buscas, acerca de se identificar naquele maravilhoso lugar.
Soldado Mendes fazia o papel de guia, e nos contava com orgulho, o que sabia da história, da fauna e da flora do bosque que um dia foi favela. De repente, Rafael aparece esbaforido, e completa aquele grupo ao qual ele já fazia parte. Sentamos com toda a beleza natural que nos cercava, e começamos o primeiro debate, cheios de inspiração. Falávamos acerca das percepções e identificações. Os tópicos variavam de situações generalizadas, como por exemplo, a atmosfera; até situações mais específicas, como as folhas, os galhos e/ou os animais. E nesse clima harmonioso, nos preparamos para uma nova apresentação ao grupo, dessa vez em nível mais intimista e descontraído. Com um grupo tão falante onde a empatia rolava solta, a proposta acabou se alongando mais do que esperado. Retornamos a sede principal, esbarrando com Danielle, da secretaria do meio ambiente, e o Gestor do parque ao longo do caminho, que se fez bastante solicito e atencioso. Antes de conseguir lugar para sentar, meio desconfortáveis ainda, colocamos em prática a idéia de que o aprendizado, pode se dar em qualquer situação, sentamos no chão e iniciamos a leitura de um livro infantil, que abordava as diferenças(que devem ser respeitadas sempre) utilizando-se de uma analogia com os pés.
Demorou algum tempo, até que conseguíssemos descolar algumas cadeiras e nos organizássemos, para iniciar mais uma roda de leitura, com debates e reflexões. Começamos com algumas frases de Walter Benjamin, para estimular. O curioso é observar que após a leitura das primeiras palavras, já podemos notar as reações físicas, como o balançar positivo da cabeça, ou o sorriso maroto saindo do canto da boca.
O primeiro texto de Madalena Freire Weffort, nos faz refletir acerca de nossos próprios paradigmas, estagnados em estereótipos. E que para conseguirmos ensinar, precisamos estar atentos, a realmente ouvir, nos doar, entregar-nos aquela ação, muitas vezes como observador, nos utilizando principalmente da reflexão, a avaliação e o planejamento. A primeira ilustração aparece e todos são unânimes em dizer que a imaginação é uma ferramenta importantíssima, no ato da aprendizagem. Com o texto que se deu logo a seguir falando sobre faz de conta, continuamos a dar asas à imaginação e até remeteu-nos ao sentimento de nostalgia das brincadeiras do tempo de criança. As ilustrações, continuam na mesma linha de raciocínio, onde a imaginação e a realidade, muitas vezes tolidora, vai moldando nossa visão. Afinal, pregadores são peças que podem ser transformadas em algo muito mais interessante e divertido do que um porta canetas.
O sol já se fazia sentir em nossa pele, e movíamos o círculo, para escapar da ardência que os raios provocavam. Contudo, sedentos pelo saber, não arredávamos pé. O último texto também de Madalena Feire Weffort, já na introdução, nos instiga a lidar com educação como aventura, arte, e nos deixa cada vez mais motivados, mostrando que a paixão é ferramenta imprescindível no ato de educar, sempre com estrutura e organização, com teorias e metodologias a serem seguidas, e dessa forma vamos registrando principalmente o que nós é significativo e quando refletimos sobre isso já estamos totalmente inseridos no processo de aprendizagem.
Ser educador, não é apenas estar à frente de um grupo, passando conhecimento. Ser educador é um desfio constante e progressivo de estar disponível para reaprender a olhar, afinal, ser o educador é ser um alfabetizador, pois alfabetizar está ligado a todos os tipos de linguagem e faixas etárias, utilizando-se de espaços sistematizados de acompanhamento, e auxiliando em todos os aspectos a formação do conhecimento, em todos as facetas da vida: individual ou social, cognitiva, estética, afetiva...
Calvin nos coloca para pensar, com questões existenciais, será que a música “cada um no seu quadrado” tem fundamento? Não podemos compartilhar o quadrado e juntos desvendar até onde poderemos chegar com nossas intermináveis indagações?
“Só sei que nada sei” (citado por Platão in: "Apologia de Sócrates")
Para finalizar, mais um livro infantil e mais um aprendizado importante. “Esta é a minha casa”? Esta é a nossa casa, seja o planeta, seja o nosso corpo, seja a nossa mente. “O exercício” deve ser constante e interminável, o educador é um eterno educando.
E assim nosso dia se finalizou!